sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O Silencioso Drama dos Antifúngicos na Atenção Básica: Uma Realidade Pouco Conhecida.

     Você sabia que enfermeiros prescrevem mais antifúngicos que médicos na atenção primária? Essa é apenas uma das descobertas surpreendentes de um estudo pioneiro que analisou prescrições em uma Unidade Básica de Saúde do Distrito Federal, revelando aspectos pouco conhecidos sobre o uso desses medicamentos no primeiro nível de atenção à saúde.

    A pesquisa mergulhou no universo das 69 prescrições de antifúngicos dispensadas em apenas um mês, desvendando padrões que podem estar se repetindo silenciosamente em todo o país. Os resultados mostram uma realidade complexa: enquanto mais de 90% das prescrições seguem as normas técnicas básicas, como o uso da Denominação Comum Brasileira, há lacunas importantes no conhecimento sobre como esses medicamentos estão sendo utilizados na porta de entrada do SUS.

    O que torna este estudo particularmente relevante é sua raridade. A escassez de pesquisas sobre antifúngicos na atenção primária significa que profissionais de saúde, gestores e pesquisadores têm operado quase às cegas nesta área. Enquanto sabemos muito sobre o uso de antibióticos, o universo dos antifúngicos permanece inexplorado, apesar de sua importância crescente.

    A predominância do fluconazol e miconazol nas prescrições pode parecer um dado técnico, mas esconde questões fundamentais sobre adequação terapêutica e resistência medicamentosa. Cada prescrição inadequada não é apenas um problema individual – é uma peça no quebra-cabeças da resistência antifúngica, um fenômeno que pode tornar tratamentos ineficazes e prolongar sofrimentos.

    O papel destacado da enfermagem como categoria prescritora levanta questões importantes sobre capacitação, protocolos e supervisão. Não se trata de questionar competências, mas de entender como diferentes profissionais tomam decisões terapêuticas e quais fatores influenciam essas escolhas.

    Talvez o aspecto mais intrigante seja o que o estudo não encontrou: apenas uma prescrição continha associação de antifúngicos. Isso sugere boas práticas ou revela uma possível subutilização de terapias combinadas quando necessárias? A resposta está nas entrelinhas dos dados.

    Para profissionais da atenção primária, este trabalho oferece um espelho raro de suas práticas prescritivas. Para gestores de saúde, apresenta evidências para tomadas de decisão sobre protocolos e capacitação. Para pesquisadores, abre um campo fértil para investigações futuras.

    Os custos em saúde, as taxas de internação e até mesmo óbitos podem estar conectados às decisões tomadas diariamente nos consultórios das UBS. Este estudo ilumina um território inexplorado da farmacoterapia brasileira, oferecendo insights que podem transformar práticas e salvar vidas.

    Para mais informações acesse: https://doi.org/10.17058/reci.v14i4.19123.




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